CASA VAZIA
Texto, fotografia

A casa onde vivo tornou-se num sítio estranho. Frio. E não é o frio bom que nos refresca quando vimos do calor frenético do verão. As prateleiras foram ficando vazias. O frigorífico só tem os iogurtes... o essencial para termos em caso de urgência. Há por vezes um doce para compensar a amargura que se sente aqui.
Depois de ires, pouco a pouco outras coisas foram desaparecendo. Os sons, o cheiro, a aura. Tentei compensar com a renovação do meu quarto. Gosto muito dele. É acolhedor. Talvez vá aproveitar os móveis quando me mudar Mas nem isso ajudou.
Quero sair porque me sinto sozinho. Mesmo com os meus avós aqui ao lado, a minha namorada com uma chamada à distância, ou o meu pai que por vezes passa a noite cá... ele está a refazer a sua vida e a reencontrar alguma da felicidade que perdeu.
Esta casa não é a mesma, apesar da minha presença diária. Pensava que ser autónomo até podia ser uma coisa boa, até porque todos desejamos uma certa independência, não é? Mas aqui não. Sente-se principalmente ausência, e nada a pode preencher.
Não sei qual vai ser o futuro desta casa. Há apesar de tudo um sentimento de pertença, de um legado de quem a planeou e a arranjou desde que eu era criança. Tínhamos muitos planos para ela, e penso todos os dias nesses planos se podiam ter concretizado. Mas a vida cortou-os a meio com uma daquelas facas bem afiadas. Talvez um dia alguma família possa preencher a felicidade que esta casa já teve. Por agora não. Mesmo com móveis renovados, tentativas de a colorir com esculturas ou quadros, ela vai ficar vazia.